Um caso de vampirismo na Europa do século XVIII
O famoso caso Arnold Paole
Em 3 de março de 1732 a revista Le Glaneur Hollandais (1) publicou em detalhes um caso que daria início, na França, à discussão sobre a existência ou não dos vampiros. A publicação também passou a usar o nome vampiro – em francês vampire, até então era grafado vampyre – pela primeira vez. A história de Arnold Paul teve repercussão imediata em toda a Europa. Alguns anos depois em 1746, o Traité sur les apparitions des esprits, et sur les vampires, ou les revenans de Hongrie, de Moravie , e.(2) de Dom Augustin Calmet trazia a descrição completa deste e de outros casos.
Há cerca de cinco anos, que certo heiduque habitante de Médreiga(3), chamado Arnold Paul, foi esmagado na queda acidental de uma carroça de feno. Trinta dias após a sua morte, quatro pessoas morreram subitamente da maneira que morrem, de acordo com a tradição do lugar, os que são molestados por vampiros. Alguém então lembrou que Arnold Paul havia frequentemente contado, que próximo de Cassova, perto da fronteira da Sérvia turca, foi torturado por um vampiro turco – porque eles acreditavam também que os que foram vampiros passivos durante a sua vida, tornavam-se ativos após a sua morte, ou seja, que os que foram sugados, sugam também quando revivem – mas que ele havia encontrado meio de curar-se, comendo terra do sepulcro do vampiro e esfregando seu sangue. Precaução que não o impediu contudo de tornar-se vampiro após a sua morte. Foi exumado quarenta dias após o seu enterro, e encontrou-se sobre o seu cadáver todas as marcas de um arquivampiro. O seu corpo estava vermelho, os seus cabelos, as suas unhas, a sua barba estavam renovados, e as suas veias estavam cheias de um sangue fluido, espalhado em todas as partes do seu corpo e sobre o lençol com o qual estava coberto. O Hadnagi, ou o bailio do lugar, na presença de quem fez a exumação, e sendo um homem especializado no vampirismo, fez atravessar, de acordo com o costume, no coração do defunto Arnold Paul uma estaca espessa e afiada que atravessou também o corpo, o que fez com que, diz-se, soltasse um grito pavoroso, como se estivesse vivo. Depois disto, sua cabeça foi cortada e seu corpo queimado. Após aquilo fez-se o mesmo procedimento nos cadáveres das quatro pessoas mortas pelo vampiro, para que não fizessem o mesmo aos outros à sua volta.
Todas as precauções não puderam entretanto, impedir que no último ano, isto é, ao fim de cinco anos, estes funestos prodígios recomeçassem, e vários habitantes da mesma aldeia perecessem. No espaço de três meses, dezessete pessoas de diferentes sexos e de diferentes idades morreram de vampirismo, alguns sem estarem enfermos, e outros após dois ou três dias de apatia. Conta-se, entre outros, uma moça chamada Stanoska, filha do heiduque Jotuitzo, que dormindo em perfeita saúde, despertou no meio da noite tremendo e gritando, dizendo que o filho do heiduque Millo, morto havia nove semanas, tinha tentado estrangula-la durante o sono. A partir deste momento definhou, e ao fim de três dias morreu. O que esta moça havia dito do filho de Millo o fez ser reconhecido como vampiro: então exumaram-no e encontraram-no como tal. Os dirigentes da região, os médicos, os cirurgiões investigaram como o vampirismo havia reaparecido, após as precauções que tinham tomado alguns anos antes.
Se descobriu enfim, após as investigações, que o defunto Arnold Paul não havia matado somente as quatro pessoas mencionadas, mas também vários animais que os novos vampiros haviam comido, entre eles, o filho de Millo. Com esta conclusão decidiu-se desenterrar todos que estavam mortos há certo tempo, e entre quarenta, encontrou-se dezessete com todos os sinais evidentes de vampirismo, sendo assim tiveram o coração transpassado e a cabeça cortada, em seguida foram queimados e suas cinzas foram jogadas no rio.
Todas as informações e execuções de que falamos, foram feitas juridicamente, de forma correta e atestada por vários oficiais de guarnição que estavam na região, pelo cirurgião major do regimento e principais habitantes do lugar. O processo foi enviado no fim de Janeiro passado ao Conselho de Guerra Imperial em Viena, que havia estabelecido uma comissão militar para examinar a verdade de todos os fatos.
É o que declarou o Hadnagi Barriarar, os antigos Heiduques, sendo assinado por Battuer, primeiro Tenente do Regimento Alexandre de Wirtemberg, Clickstenger, Cirurgião Major do Regimento de Frustemburch, além de três outros cirurgiões da Companhia, Guoichitz, Capitão de Stallath. (CALMET, 1751, Capítulo X)
As discussões ao redor deste caso e as publicações em jornais locais deram os ingredientes para a literatura, mais tarde, apropriar-se dos vampiros.
1. Le Glaneur Hollandais – Revista franco holandesa que circulava na corte de Versalhes (França). O caso Arnold Paul foi publicado na edição número 3 de março de 1732.
2. Tratado sobre a aparição de espíritos e sobre os vampiros ou os revividos da Hungria, da Morávia, etc.
3. Medvegia – Ao norte de Belgrado, numa área da Sérvia então pertencente ao Império Austríaco.
AINDA FICO EM DÚVIDAS SE REALMENTE ISTO É VERDADE,RSRS MAS QUE É ASSOMBROSO É SIM !!RSRS PARABÉNS PELA INICIATIVA.
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